" Havia naquela mesma vila a garota que voava para longe com seus sonhos, que parecia desaparecer em seus pensamentos e viajar para outro mundo só seu. Se bem que esse mundo não era tão longe e nem difícil de se chegar, era logo ali, naquela imensidão de um verde vivo, naquele lugar de onde as árvores pareciam respirar e o vento parecia sussurrar uma cantiga esquecida pelo tempo, uma floresta que aos olhos sonhadores da garotinha não era "só mais uma" .
A vida parecia lhe emanar das raízes daquelas árvores da qual os anos ninguém mais contou.Seus dias de brincadeira foram gastos dentro daquele santuário de árvores, seus amigos eram os pássaros que faziam ecoar o seu canto pela floresta, seus dias isolados foram preenchidos com pescas nos pequenos lagos de um azul profundo perdidos em meio ás vegetações.
A solidão lhe pareceu a melhor amiga diante de toda a sua vida, ela a impediu de se aproximar de frutas estragadas e apodrecer como uma casca de sonhos vazios, e então ela continuou à voar para outro mundo bem longe do de todos e pareceu se tornar a única luz dentre todo aquele erro.
Aos poucos , as pragas tacadas sobre a terra assolaram sua vila e o mundo pareceu perder a cor, as chuvas já não vieram mais, o solo parecia estéril e os corvos começavam á pintar o céu de negro enquanto as demais criaturas viravam pó e se deixavam levar pelo vento, a vida parecia ter desistido de tentar.
A garota parecia ter crescido , mesmo sendo patético para muitos ainda manter esperança e se iludir de que algo fosse mudar ela ainda acreditava na vida que antes lhe rodeava.
A última coisa que pareceu ser deixada para a mesma era um ovo, um simples ovo que talvez tenha se tornado apenas mais uma pedra, uma coruja poderia nascer dali mas nem mesmo os donos do ovo conseguiram viver antes que tivessem que mutilarem um ao outro e devorar á ferozes bicadas um ao outro devido a peste, aquele casal de belas corujas que lhe fazia companhia de noite havia deixado apenas um ovo , só um mísero ovo para que talvez nasça uma vida.
Seus dias cinzentos foram passados com a pequena corujinha que por sorte nasceu, sempre ficavam embaixo de uma árvore esquelética com um pano surrado estendido no chão em uma hora do chá que muitas das vezes os fazia esquecer desse mundo esquecido por Deus e a trazia de volta os sonhos de infância. E em um dia, ela percebeu que brilhava com seus vívidos sonhos e desapareceu na floresta levando consigo a pequena corujinha enrolada em panos, e ela que se apaixonou pela vida, deixou-se enraizar pelas árvores da floresta e se tornou parte dela ... deixando que sua vida lhe deixasse e retornasse o verde daquele mundo... e hoje ela canta nas florestas a mesma cantiga do vento, esperando que a solidão desista e que a vida retorne... "
-- Conto escrito por @Guilherme.Furlan no grupo oficial da pág, o Arcanum!
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