quarta-feira, 26 de julho de 2017
Contos: Frutos da coragem
O caos reinava no norte, também no sul, leste e oeste e assim como em qualquer canto do grande continente de Grimar. Sim, o grandioso continente de Grimar. Sempre inabalável em seus mitos e em suas crenças. Lar da maior potência de Guerra de todo o mundo, o Reino de Kalazhar. E como, uma potência de Guerra, poderia perder uma batalha de tal porte? Sim, uma incógnita que assombrava até mesmo o próprio Supremo Líder de Grimar, e ainda mais, Has-Gor, Rei de Kalazhar. Mas, o que parecia ser tão impossível, na verdade era simples. Extremamente simples. Obviamente, observando a prosperidade que circundava o Reino de Kalazhar a cada dia e o apoio que o mesmo recebia vindo diretamente do Líder Supremo do continente, uma aliança emergiu entre todos os outros 10 Reinos que compunham o continente. Sim, era uma enorme aliança. E somando seus exército, cada soldado do Grande Reino teria de enfrentar em média, 8 soldados adversários. Mesmo sendo o mais bem treinado exército não somente do continente, mas de todo o mundo, seria esperar um milagre ao crer que os soldados de Kalazhar poderiam dar conta de um contingente tão superior ao seu. Com isso, surgira o medo. E com o medo, é difícil o sucesso. E cada vez mais difícil pensar em esperança, quando a mesma já deixa de existir. Se os magos ainda existissem, talvez aquela situação poderia mudar... porém a única raça com poder suficiente para definir o futuro daquele embate, estava extinta já a algumas décadas. E pelo Reino, existiam apenas seus artefatos deixados e raramente encontrados.
Era dessa forma, que cada morador, soldado, nobre e governante de Kalazhar estava. Menos um. Nor'uel. Era apenas um Sargento do exército do Grande Reino, não muito notado entre seus semelhantes e sempre positivo, sempre. Até mesmo, naquela impossível situação. Seus discursos de encorajamento eram lançados ao vento, as palavras nem sequer tinham o poder de penetrar a mente dos soldados e moradores. Um Rei de uma potência como Kalazhar não poderia entregar suas terras daquela forma, seu domínio. Mas também, não poderia promover um massacre no qual seu Reino apenas seria lembrado na história como terras mortas, que pereceram sobre uma guerra qualquer, cenário a qual eles dominaram durante séculos.
Porém, se dependesse de Nor'uel, aquele não seria o destino de seu Reino, sua casa...
...seu Paraíso.
[...] 2 dias depois...
Temendo a extinção de seu povo Kalazhiano, Has-Gor ordenou uma evacuação. Iam para terras afastadas, oferecidas por Grimar. Mesmo o Supremo Líder não podendo interferir diretamente na guerra, poderia, de maneira indireta auxiliar Has-Gor a ao menos, não ser morto com seus milhares e milhares de habitantes.
Enquanto os últimos aldeões deixavam o Reino, alguns levando suas coisas em carroças puxadas por bois já cansados pela escassez de alimento que os rondava à dias, devido ao cerco feito nos portos pelo exército da Aliança Revolucionária, o nome dado aos próprios criadores da maior aliança já vista em toda a história do continente. Ou melhor, do mundo.
Os soldados ficaram por último, dando apoio aos moradores para que a evacuação pudesse ocorrer de forma mais rápida. Porém antes que deixassem o Reino, do topo das ameias, ecoou o som de um alarme, que em fracões de segundos depois foi abafado pela melodia ensurdecedora de dezenas de berrantes de guerra, em uma harmonia quase perfeita com tambores gigantescos, tocados por monstruosos Orcs, com imponentes 2 metros de altura e braços feito troncos de árvore. E assim, era todo o contingente Orc. Humanos, elfos, anões, goblins, trolls, gigantes e todo o tipo de criatura contra a ideologia de Guerra de Kalazhar estava ali reunida para presenciar e participar do fim do grande Império Guerreiro.
O pânico instaurou-se de vez, soldados não sabiam se corriam ou se lutavam. Obviamente, encontraram a resposta após darem uma outra olhada no exército adversário. E ali, milhares de soldados batiam em retirada, alguns em cavalos, outros sobre carroças e alguns menos afortunados, corriam desesperadamente, retirando suas armaduras e lançando as peças ao solo como se nada fossem. O Reino, visto ao longe, estava vazio. E esse foi o motivo dos urros de comemoração que contagiou todo o exército da Aliança em sua vibração. Mas logo toda a comemoração, tornou-se escárnio. Risadas. Risadas. E mais risadas. Motivo? Bom, era simples. Talvez por um idiota que caminhava à frente dos portões principais do Reino de Kalazhar. Vestia uma armadura completa, e na lateral do corpo, sustentada pela mão direita, levava uma espada média. E para concretizar seus feitos, toda a Aliança Revolucionária partiu contra o Império Guerreiro, visando destruir aquele inseto em seu caminho e tomar para si, o Reino que sempre almejaram ver sucumbir. Ali estava sim presente uma grande Aliança... e ainda mais presente uma Revolução. Mas não uma Revolução de exércitos. Uma revolução de um só homem. Parado à frente dos portões, Nor-uel via seu corpo incandescer a cada segundo mais, até que um brilho cegante emergiu ao seu redor. Mas não para ele. O mesmo pôde ver entre a luz pura. Na verdade, através dela. E ali estavam presente 12 homens.
Ou melhor... 12 magos.
— Nor-uel. — E o som emitido por 12 graves vozes em uníssono causava arrepios sobre a pele do Guerreiro. — Está na hora de deixar de Estar. E simplesmente Ser.
O tempo, havia congelado. Até mesmo os pássaros que sobrevoavam aquele futuro campo de batalha até então, haviam paralisado no ar, assim como todo o exército da Aliança em terra.
— Não tens poder divino. Fazeis da sua humildade seu poder. Não tens poder mágico, então fazeis de sua personalidade a sua magia. Faça de sua CORAGEM, seu milagre. Não tens vida, ou morte. Faça delas, sua eternidade. E não por nosso nome, mas pelo equilíbrio, repito...
"Seja, aquilo que ninguém jamais foi. Seja."
Ao fim da frase, a voz formada pelo conjunto das 12, simplesmente desapareceu, o clarão fora assim como ela e tudo retornou ao normal. A Aliança inteira estremeceu ao retornar à realidade e notar que em milésimos, tudo parecia se alterado. O ar antes vitorioso ao redor de seu exército, tornou-se pesado. A espada do Guerreiro solitário, que antes parecia apenas uma arma qualquer, tinha runas incandescentes azuis que brilhavam mais que o céu em um típico dia ensolarado de verão.
[...] 1 minuto depois...
Enfim, o choque aconteceu. O exército da Aliança avançou contra o Guerreiro, que pareceu ser engolido quando os primeiros Orcs o tocaram. Acreditando na superioridade, o exército havia dispensado os Arqueiros, facilitando ainda mais a vida de Nor'uel naquele embate. O impacto foi brutal. Em frações de segundos, espadas, braços, cabeças e sangue voavam pelos ares. Como todo aquele estrago podia ser feito se apenas um homem estava sendo morto? O fato, é que um homem não estava sendo morto. Ou melhor, muitos estavam. Não só homens. Mas o Escolhido, permanecia intacto à cada movimento, cada dança de sua espada. Em segundos de combate, dezenas já haviam sido mortos. O corpo de Nor'uel movia-se como uma pena, em uma velocidade nunca antes alcançada por qualquer que fosse o ser. Sua lâmina dançava pelo ar enquanto traçava corpos, destruía armaduras. Um cerco rápido foi feito e aproximadamente 20 lanceiros atacaram em uma estocada com suas lanças contra o Guerreiro Escolhido. As lanças o perfuraram, mas nem sequer para expressar dor, o tempo foi suficiente. Tudo novamente paralisou, e em seguida as imagens retrocederam lentamente à segundos antes. Novamente, o cerco se formava, porém desta vez, o corpo de Nor'uel voou e o mesmo apoiou-se sobre as lanças no momento que as mesmas fecharam o golpe. Agachou-se, ainda sobre o metal, já que seu peso naquele momento tornava inútil qualquer lei da gravidade e girou. Um golpe em arco com sua espada varreu consecutivamente todos os 20 lanceiros, que caíram um após o outro.
Como fizera aquilo? Aquela não era uma espada qualquer. Em sua mão repousava a Gyonjii, traduzida como Lâmina do Tempo.
A batalha se estendeu por horas e com ardor, o Guerreiro não descansava. Golpeava sem longos espaços de tempo, abria feridas incuráveis em cada inimigo que atacava. Assim como em sua espada, runas brotaram também em suas mãos, de onde o mesmo disparou feixes de energia arcana, energia divina, tudo concentrado na mais pura energia. Por incrível que pareça, qualquer magia que lançava naquele momento, deixava sua palma com a aparência de uma chama. Mas ele entendia aquilo. Sua justiça regia a alma do Guerreiro Solitário naquele momento, e seu fogo moldava-se de acordo com o pensamento em proteger seu local de origem...
Seu paraíso. Agora, completo. Pois estava ali, o Anjo Protetor de Kalazhar.
[...] 5 horas depois...
Em passos receosos, podia-se avistar milhares de corpos surgirem no horizonte, chegando à uma vasta planície. Em alguns, ainda era possível notar os símbolos e brasões de Kalazhar pelo corpo. Acontece que, estimulados por uma repentina coragem, o exército fujão do Império Guerreiro resolveram fazer uma manobra e retornar para tentar retomar sua terra. Porém, ao chegarem, a incrível visão que tiveram foi de que seu Reino ainda estava em paz. Sem nem sequer sinal da Aliança Revolucionária. E o mais incrível, foi que quando contornaram os muros do Castelo principal, localizando-se agora de frente para o portão principal, puderam avistar algo que surpreendeu até mesmo o maior carrasco daquele grupo...
Um Troll exausto descia um tacape contra uma figura de estatura média. A armadura do Guerreiro ali solitário naquele campo de batalha estava coberta de sangue vermelho, verde, negro, gosmas e restos mortais de todos aqueles que matou durante o embate glorioso. O tacape atingiu o alvo com toda a força, levantando até mesmo poeira do solo ensanguentado ao redor do combate. Porém, a brisa ao redor de onde o ser estava intensificou-se e uma ventania varreu a nuvem de poeira. Ali, estava Nor'uel, sustentando a arma de madeira pesada com apenas uma das mãos. O troll tremeu com a visão. E fora a última coisa que viu, pois em um giro o Guerreiro golpeou os olhos da criatura, cegando-a na mesma hora. As mãos do ser foram erguidas aos olhos depois de largar a arma, porém quando chegaram ao destino, foram tocadas por carne viva, enquanto as mãos do Troll já caíam sobre o chão, decepadas pela Lâmina do Tempo. Por fim, em um ato de misericórdia, o guerreiro saltou e a espada transpassou o peito da grande criatura. Nor'uel acompanhou a queda, parando sobre o peitoral do ser, com sua lâmina perfurando a pele do monstro que já tinha a alma contactando os planos infernais.
Aquela ainda não era a maior visão que os milhares de Guerreiros tinham ali. A maior delas, fora as silhuetas feitas de pura energia etérea e intangível que formavam uma fileira às costas de Nor'uel, um ao lado do outro, com as mãos estendidas sobre o Guerreiro. À frente das palmas, orbes de energia celeste brilhavam. Eram doze orbes. Doze seres. Doze regentes do mundo. Doze um dia homens...
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